Formalmente o edifício afirmar-se pelo seu desenho anelar que protege os seus utilizadores dos ventos predominantes a norte na esplanada aberta a sul, ao mesmo tempo que mitiga o seu impacto fazendo coincidir o interior vazio do anel com um dos pontos mais altos da duna. A planta circular está associada desde há séculos à ideia de unidade e harmonia, ou ainda eternidade, promovendo a continuidade espacial.
É nossa opinião de que esta opção suaviza a relação do equipamento com a paisagem construída, fomentando um diálogo muito mais tranquilo que o das soluções mais
conservadoras que tradicionalmente adoptam as estruturas de planta rectangular ou em "L”. No essencial, da relação entre natural e artificial surge a oportunidade de construir uma nova paisagem onde ambos - natural e artificial - contribuem para o sucesso do desenho proposto.
A tectónica
Remetendo para a imagem tão característica nesta zona dos antigos palheiros em madeira, e recorrendo à técnica das palafitas, a solução construtiva ligeira e amovível, assenta em estacas de madeira tem como base de suporte uma estrutura sobrelevada reticular integralmente realizada com vigas e pilares em madeira lamelada.
Quer a compartimentação interior quer os revestimentos exteriores são igualmente de construção de junta seca, sem o emprego de argamassas, recorrendo à madeira termo modificada e ao vidro para a envolvente exterior. A cobertura, com uma inclinação de 5º, será executada em painel sanduíche de madeira e impermeabilizada com tela de PVC rematada com rufos de zinco no perímetro exterior e perfil de PVC no perímetro oposto.
As zonas envidraçadas voltadas para o perímetro exterior do anel foram desenhadas com três folhas, das quais duas fixas e outra móvel de abertura em guilhotina para facilitar a ventilação natural do espaço. Esta preocupação de ventilação e iluminação natural presente no espaço de atendimento ao público é extensível a todos os compartimentos construídos: cozinha, balneários de funcionários, armazém de apoio à praia, instalações sanitárias e posto de socorros, aqui com o recurso à iluminação zenital.
A área de esplanada está protegida com um "trança” de madeira em forma de espinha de peixe e que se prolonga para o tecto do interior. Para marcar a "porta”, uma plataforma no lado nascente do passadiço assinalam a entrada e convida quem passa.
Para ser possível implantar a uma cota acessível a partir dos percursos existentes, foi necessário uma intervenção no sistema dunar. Desta operação resultou a transladação de areias para poente possibilitando o reforço da duna primária. Consideramos que o alargamento da duna primária, em detrimento da sua altura, cria uma base mais estável para resistir melhor aos efeitos quer da erosão quer do galgamento, permitindo uma maior robustez dunar ao mesmo tempo que minimiza o impacto visual na vivência e fruição da orla costeira.